sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Como funciona o reaproveitamento ou reciclagem de pneus

Por Luís Indriunas.

Introdução - da roda para o asfalto
Desde 1999, as indústrias de pneus brasileiras têm que dar uma destinação
ambientalmente correta para os pneus usados, graças àresolução 258 do Conselho
Nacional do Meio Ambiente. Desde então, as empresas são obrigadas a correr atrás
para tentar conseguir aproveitar e sistematizar a coleta de pneus.
Na natureza, o passivo ambiental de um pneu é caro. O produto pode demorar muito
para se decompor naturalmente. As estimativas chegam a 600 anos até ele virar pó
(Fonte: Recicláveis.com). Além disso, quando queimado ao ar livre, o pneu solta
uma fedorenta fumaça negra, que obviamente é poluente. No leito dos rios, eles
atrapalham o fluxo natural das águas. E jogar pneu fora, em qualquer lugar, depois
de recauchutá-lo várias vezes, parece ser uma prática indiscriminada. Apesar de não
haver um dado oficial ou sistematicamente pesquisado, as estimativas são de 30
milhões de pneus jogados por ano (Fonte: Akatu). De qualquer modo, somente na
limpeza do rio Tietê, entre 2002 e 2006, 120 mil pneus foram encontrados jogados
nas águas poluídas do rio paulista (Fonte: Estadão). Aliás, os pneus cheios de água
foram considerados os grandes demônios da época da dengue.

São 30 milhões de pneus jogados fora todos os anos no Brasil
Do outro lado, o Brasil é um grande reformador de pneus, só perdendo para os
Estados Unidos em termos de faturamento e volume. O setor gera uma receita
de R$ 5,6 bilhões ao ano (dados de 2007). São 7,6 milhões pneus reformados para
caminhões e ônibus, 8 milhões para automóveis, 2 milhões para motos e 300 mil
para veículos agrícolas ou off roads anualmente, num total de 17,9 milhões,
segundo a Associação Brasileira do Segmento de Reforma de Pneus (ABR). Cerca
da metade dos pneus usados é reaproveitada, são os chamados pneus meia-vida.
Levando em conta o valor de 63 milhões de pneus novos produzidos por
ano (Fonte: Anip - Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos), é como se o
Brasil conseguisse reformar bem menos da metade, ou 28%, do que é produzido por
ano.

Entre as razões para o sucesso da reforma ou recauchutagem, obviamente, está o
poder aquisitivo, ou melhor, a falta de poder aquisitivo do brasileiro. Aliás, a reforma
de pneus tornou-se um questão política, provocando a conhecida “guerra dos
pneus”, que será explicada nas próximas páginas.
De qualquer modo, há ainda o chamado pneu inservível, que não pode ser
recauchutado ou reformado. Uma destinação para ele é o grande desafio não só no
Brasil como no resto do mundo. Segundo a Anip, desde a publicação da resolução,
em 1999, até 2007, foram 700 mil toneladas de pneus reaproveitados de várias
formas (como componente energético, matéria-prima para outros produtos etc.).
Esse número equivale a 139 milhões de pneus de automóveis, o que dá cerca
de 18 milhões por ano. Obviamente, ainda é muito pouco, se lembrarmos a
estimativa de 30 milhões de pneus jogados fora por ano.
Como é possível ver, a situação não é fácil, mas os caminhos estão aí. Bom, de
qualquer modo, é importante conhecer um pouco desses processos e também a
polêmica história da Guerra dos pneus. Ah, e aliás, qual a diferença entre um pneu
recauchutado e um recapado.

A guerra dos pneus
Em 1995, a imprensa brasileira começou a noticiar o que foi batizado de a“guerra
dos pneus”. A briga, no entanto, já vinha acontecendo sem holofotes desde 1991,
quando o governo federal proibiu a importação de produtos usados no Brasil.
Resumidamente, este confronto de mais de uma década foi uma briga política e
judicil entre a Associação Brasileira da Indústria de Pneus Remoldados (Abip) e
a Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip). Na época, a Abip
procurou autorização para importar pneus usados, principalmente da Europa.
Para os europeus, exportar os pneus era uma grande vantagem. Por lei, eles são
obrigados a dar um fim aos pneus usados quando não reutilizados de alguma forma.
O processo de reutilização do pneu não é barato, além do mais, não há cultura de
remoldagem e recauchutagem no chamado velho mundo. Para as indústrias
remoldadoras brasileiras, a vantagem estava em receber contêineres com material
barato, aliás muito barato, já que as empresas européias arcavam com o custo.
Como o mercado de recauchutagem europeu é quase inexistente, muitos pneus
meia-vida de boa qualidade vinham direto ou praticamente direto para o mercado
consumidor. No entanto, ambientalistas e a Anip chiaram e muito. Para os
ambientalistas, o passivo ambiental dos pneus usados no Brasil é muito
grande para deixar que mais pneus cheguem no país, em vez de procurar soluções
para os problemas de resgate dos usados no Brasil. Para a Anip, era dar o braço a
torcer para concorrentes de vários tamanhos.

Os capítulos seguintes da guerra foram cheios de vai-e-vem. Em 1994, uma portaria
do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) decidiu pôr fim à proibição da
importação. Mas as indústrias contestaram na Justiça e conseguiram a abertura.
Tanto que em 1999 a empresa BS Colway, considerada a maior fábrica de pneus
remoldados do mundo, instala-se no Brasil para usar pneus usados importados da
Europa. Em 2003, o governo Lula voltou a proibir a importação a partir do decreto
4.592, mas o Uruguai entrou na briga. O país vizinho começou a receber os produtos
importados e, por força dos acordos do Mercosul, conseguiu brechas para levar os
pneus para o Brasil. As duas últimas e decisivas batalhas foram naOrganização
Mundial do Comércio (OMC) e no Supremo Tribunal Federal (STF). No primeiro
palco, o Brasil venceu a União Européia, que exigia que o país aceitasse os pneus
usados. No segundo palco, os ministros do tribunal decidiram suspender todas as
liminares que as empresas de pneus remoldados conseguiram na Justiça, para
importar mais pneus. As duas decisões aconteceram em dezembro de 2007.
Para o Brasil, o resultado negativo foi o fechamento de uma grande indústria, a BS
Colway. Mas os aspectos positivos parecem ter sido compensadores. O país deixou
de receber o passivo ambiental de outros países. Além disso, com toda essa
discussão à tona, as indústrias de pneus novos passaram a ser obrigadas a
cuidar do seu passivo ambiental, tendo que se organizarem para colher e
reaproveitar o material, em vez de fingir que não viam as toneladas de pneus nos
leitos de rios e aterros sanitários brasileiros. O ambiente agradece.
O que acontece com os pneus inversíveis?
Aqui está o grande desafio para a questão dos pneus no mundo hoje: dar um fim
econômico e ambientalmente satisfatório para os pneus inservíveis. A questão é
complicada. Primeiro, porque não há um recolhimento sistemático desse material.
Atualmente, a Reciclanip, braço da reciclagem da Anip, vem se esforçando,
fechando parcerias, principalmente, com as prefeituras para criar centros de
recolhimento de pneus, que eles chamam Ecopontos. Até agosto de 2008, 237
municípios já haviam aderido ao programa, com mais de 300 postos de
recolhimento. Segundo porque há uma série de custos que a indústria de pneus
tem que arcar.

Mas o que é possível fazer com o pneu, digamos, “fim de linha”? Há várias saídas
para esse pneu, além do tradicional vaso de pneu ou balanço para crianças que
existem em vários sítios e parques urbanos. Eles podem se transformar
em solados, percintas usadas na estrutura de móveis estofados, como asfalto,
componente em tijolos de concreto e também como matéria-prima para produção
de energia em cimenteiras, por exemplo. E o pessoal da permacultura tem também
testado o uso de pneus para construção de casas. Veja alguns exemplos, clicando
aqui.

Segundo a ABR, 80% dos pneus radiais vão para os fornos de cimenteiras. Mas
é preciso preparar o material. O ComoTudoFunciona visitou uma dessas áreas
coordenada pela Reciclanip e explica passo a passo como o pneu é preparado para
os fornos.

Uma máquina arranca os fios dos pneus radiais
O primeiro passo é tentar, nos pneus radiais, tirar o máximo dos componentes que
não são a borracha, como cobre e outros metais.Isso é feito um a um através dessa máquina (imagem acima) que puxa o pneu para que do outro lado saiam os fios de metal.

Esse resto vai para outra empresa que o aproveita
Operário retira os fios de cobre da máquina que seguem para a reciclagem em outra empresa.

Eles chegam à esteira
Em seguida o pneu vai para um esteira, por onde segue para a moagem.

Os pneus começam a ser moídos
A máquina despeja os retalhos
Os retalhes seguem para as cimenteiras
Fonte: http://ambiente.hsw.uol.com.br/reciclagem-pneus4.htm

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